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Os atos de racismo em volta do personagem de Balotelli não tem espaço no Brasil

Balotelli chega ao Brasil para a Copa do Mundo com o apoio da torcida local, diferentemente do que vem encontrando ao redor do mundo

Guilherme de Morais (Desde Brasil)

Mario Barwuah Balotelli está no Brasil, o país da miscigenação. O italiano talvez não seja o grande destaque dessa próxima Copa do Mundo, até porque sua seleção está em um grupo difícil, juntamente com os também campeões mundiais Inglaterra e Uruguai.

Mas o atacante de 23 anos é o representante central de uma discussão sobre uma questão fora das quatro linhas. O motivo? Nos últimos anos, o jogador deixou de ser uma promessa para se tornar um alvo. Não dos zagueiros adversários mas, sim, dos racistas.

Balo está no centro das atenções quando o assunto é o preconceito racial. Como único negro de sua seleção, é constantemente perseguido pelos torcedores adversários com cânticos em alusão à sua cor. Infelizmente, também não vem sendo bem aceito pelos seus próprios compatriotas.

Só para exemplificar: durante a preparação da seleção para este Mundial em Florença, foi alvo de ofensas de torcedores italianos. Justo aqueles que poderiam entoar seu nome como a única arma capaz de levar a Itália ao quinto título mundial. Como se Barwuah fosse um engodo ao invés de um trunfo. Por quê?

Um breve perfil de Super Mario

Balotelli é filho de imigrantes ganeses e cresceu na província de Brescia. Foi adotado por uma família de italianos e, aos 18 anos, teve o direito de conseguir a cidadania, por isso, pôde defender a Azzurra, chegando a declarar em entrevistas mundo afora que sempre se sentiu italiano e nunca pensou em outra camisa que não fosse a azul e branca.

Começou na Internazionale, foi vendido ao Manchester City e voltou ao seu país para defender o Milan. Chegou à seleção em 2010 e marcou 12 gols em 31 partidas até aqui. É o quarto jogador negro a defender o selecionado nacional (anteriormente, Fabio Liverani, Matteo Ferrari e Angelo Ogbonna foram convocados para a Azzurra). Não fez uma boa temporada este ano pelos rossoneri e, pela Itália, está longe de ser inquestionável. Sua grande atuação foi pela semifinal da Euro 2012, quando marcou os dois gols contra a Alemanha e levou o time à final do torneio, sendo derrotada posteriormente pela Espanha.

Uma carreira decente, mas Mario não conseguiu, ainda, ser o jogador que se espera. Não decidiu títulos, não foi artilheiro isolado de nenhum grande torneio. Aparece mais nas páginas de jornais pelas polêmicas que cria do que pelos gols que marca. Às vésperas da Copa, vê Immobile e Insigne pedindo passagem, mas ainda conta com a confiança de Cesare Prandelli.

Ele não é um jogador comum, que gosta de entrevistas ou do assédio do público. Pelo contrário, por vezes é arredio com quem o idolatra. É tímido, por que não dizer, afinal, teve uma infância difícil, passou por cima de tudo isso e ficou famoso. Ganhou dinheiro, mulheres aos seus pés, carrões. É difícil não bagunçar a mente quando em um dia você é pobre e, no outro, acorda rico, poderoso.

Balotelli e o racismo: uma batalha que vem sendo travada há tempos. Os dois caminham juntos desde que o atacante se tornou profissional na Inter de Milão. Exemplos de insultos raciais ao jogador não faltam: sofreu em Verona, durante uma partida contra o time local pelo Milan; contra a Roma, também pelo Campeonato Italiano.

Durante a Euro, comemorou com inúmeros palavrões um gol contra a Irlanda, em um claro desabafo às seguidas ofensas que vinha sendo alvo – na Gazzetta Dello Sport, principal jornal esportivo italiano, publicou uma charge em que Balotelli estava pendurado no topo do Empire State, numa clara alusão ao King Kong, gorila famoso nos cinemas norte-americanos.

Mas a sua principal resposta veio contra os germânicos, quando tirou a camisa após um gol e, de cara amarrada, mostrou ao mundo que, de fato, era negro e nem por isso era menos italiano que qualquer um de seus compatriotas.

Com tudo isso, foi importante na classificação da Itália para o Mundial no Brasil. O país-sede da Copa, eleito em 2007, nós nos identificamos com Balotelli. Os motivos virão a seguir.

Brasileiros alvos de racismo mundo afora

O caso mais recente envolvendo um atleta brasileiro aconteceu com o lateral direito Daniel Alves. O jogador do Barcelona foi atingido com uma banana por um torcedor do Villareal durante uma partida do Campeonato Espanhol e deu uma resposta inusitada ao racista: comeu a fruta.

A atitude do lateral brasileiro gerou uma série de manifestações de apoio nas redes sociais, o que gerou uma campanha virtual denominada “#SomosTodosMacacos” que, por aqui no Brasil, depois foi descoberto como sendo uma campanha meramente publicitária, buscando vender produtos em alusão ao combate do racismo.

Se voltarmos ao passado, outras atitudes de torcedores estrangeiros em relação aos brasileiros podem ser recordadas. Em 2011, o lateral-esquerdo pentacampeão mundial Roberto Carlos sofreu com os racistas durante uma partida entre Anzhi (seu clube à época) e o Krylia Sovetov, pelo Campeonato Russo, ao abandonar a partida por ter sido alvo de uma banana pelos torcedores.

Brasileiros e africanos são constantemente alvos de racismos pelos torcedores considerados ‘ultras’, os mais fanáticos. Itália, Rússia, Argentina e Espanha estão constantemente nos noticiários esportivos ao redor do mundo por conta desta atitude.

No Brasil também há racismo

O país-sede do Mundial, infelizmente, também registra casos de racismo durante a sua história. O Fluminense, por exemplo, adotou o pó-de-arroz, uma espécie de talco, para disfarçar seus jogadores que eram negros, em uma época em que o futebol do Estado do Rio de Janeiro não aceitava pessoas de cor em seus clubes.

Em relação aos jogadores, o caso mais emblemático de racismo aconteceu em 2005. Durante uma partida da Taça Libertadores de América entre São Paulo x Quilmes, da Argentina, o atacante Grafite – convocado por Dunga para a Copa do Mundo em 2010 – foi ofendido pelo zagueiro argentino Leandro Desábato. O brasileiro foi expulso da partida, mas o atleta do Quilmes teve a prisão decretada ainda no vestiário do Estádio do Morumbi por conta do ato.

Outros dois casos famosos no Brasil: em Caxias do Sul, em um jogo Grêmio x Juventude no Campeonato Gaúcho de 2006, o zagueiro Antônio Carlos Zago – que curiosamente jogou na Roma, onde o racismo predomina – discutiu rispidamente, com palavrões e ofensas, com o volante Jeovânio, negro e, por conta dessa atitude, foi suspenso do futebol por 120 dias.

Em 2010, agora pelo Campeonato Brasileiro, o zagueiro Danilo, hoje na Udinese mas que na época atuava pelo Palmeiras, chamou o também zagueiro Manoel, do Atlético Paranaense, de macaco. A atitude também gerou um boletim de ocorrência em São Paulo, mas que foi resolvido com a retirada da queixa na polícia.

O carisma de Balotelli conquistou os brasileiros

Com todo esse panorama apresentado, pode se pensar que Balotelli pode encontrar um ambiente hostil aqui no Brasil, certo? Afinal, muitos foram os casos de racismo que aconteceram em terras brasileiras e o jogador seria um dos principais alvos. Muito pelo contrário. Os brasileiros se identificaram demais com o jogador italiano.

No domingo passado, a Itália disputou um amistoso preparatório para o Mundial contra o Fluminense na cidade carioca de Volta Redonda e o Super Mario foi um dos mais festejados pelos torcedores.

Situação semelhante vivida já em 2013, na Copa das Confederações, quando Balo, em meio aos protestos sociais que movimentaram o Brasil naquele mês de junho, saiu pelas ruas de Salvador, na Bahia, tirou fotos com os torcedores, postou vídeos no Instagram e se declarou parecido com os brasileiros. Como se fosse um cara comum, distante do jogador famoso que é.

Mario Barwuah Balotelli é um cara carismático. Não comemora seus gols de forma efusiva, pois, em suas palavras, nunca viu um carteiro celebrar de maneira alegre a entrega de uma carta. Desperta ódio naqueles que o veem como o diferente em um país de maioria branca. Responde a eles com certa truculência, violência verbal às vezes. Mas o mais importante é que, com sua simplicidade, misturada com uma certa arrogância e soberba, desperta uma curiosidade.

Com tudo o que se cerca ao seu nome, Barwuah tenta manter sua lucidez controlando a sua maluquice. Mario se esforça para ser um sujeito normal e fazer tudo igual como na sua infância em Brescia. Nos versos do famoso cantor brasileiro Raul Seixas, Balotelli é o verdadeiro ‘Maluco Beleza’ dos gramados. Aqui no Brasil, se sentirá em casa. Os brasileiros adoram o seu personagem. Identificam-se com ele, talvez pelo fato de que muitos tiveram a mesma vida difícil que ele teve.

Os casos de racismo que cercam o personagem de Balotelli são apenas mais um dos percalços que o atacante italiano terá de superar. Idiotas se justificam como se a cor de Mario fosse motivo para discriminá-lo. A resposta dele vem com gols. E, no jogo da vida, os racistas ficam em seus devidos lugares: colocados para escanteio.

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